Quem és ?
Francisco Alexandre Lacerda Chaló
56 anos ( 10-02-1964
O seu trajeto, como jogador, e como treinador ?
Como jogador, Ermesinde, F. C do Porto, Feirense, Castêlo da Maia, Candal e U.D. Formiga. Como treinador, U. D. Formiga, C.D. Alfenense, Pedras Rubras, Feirense, Naval, Covilhã, Penafiel, Ac. Viseu, Leixões e Paradou (Argélia)
Que vai fazer na época 2020/21 ?
Nesta altura ainda nada definido.
Qual o clube que melhor condições lhe deu ? E não me refiro só às monetárias.
Em termos de condições de trabalho, o Feirense e o Covilhã foram os clubes melhor apetrechados. Tendo o Penafiel, igualmente, deixado uma marca na forma como fui acarinhado.
Mister, como você sabe, eu sou Leixonense. O que foi para si, treinar o meu clube ?
Foi uma honra e um privilégio treinar o teu clube, pese embora o facto de ter entrado já no último terço do campeonato (13 jogos). A dimensão do clube é enorme, em termos de paixão da massa associativa e , tenho pena, de não ter começado uma época desde o início.
Gostava de voltar ao Leixões ?
É sempre um clube que qualquer treinador gosta de treinar. Quem sabe um dia volte...
Como é lidar com o ego dos jogadores ?
Extraordinariamente difícil e fácil ao mesmo tempo. Difícil no contexto atual, devido a tudo o que rodeia o atleta, e se a estrutura não acompanhar as ideias do treinador de forma a existir uma voz em uníssono. Fácil, caso sendo coerente, não se deixa que o ego individual seja superior ao coletivo e, consequentemente, aos interesses do clube.
Nestes anos todos, o que mais o fez gostar no futebol em si ?
O futebol é uma paixão. Só se consegue estar nesta atividade, "emprestando" tudo o que temos em prol da nossa profissão. Desde os amigos que se criam, à adrenalina que cada treino e jogo representam e a capacidade de evolução constante é algo estupendo. A criação de uma equipa e moldá-la ao que pretendemos, dentro das dificuldades que temos, é o que mais gosto de fazer. Tenho isso comigo em todos os trabalhos - a realização na otimização dos recursos que tenho.
E o menos?
A incompreensão e a falta de educação que, por vezes, acontece. Outra situação é a falta de respeito e a facilidade com que se tenta denegrir. Qualquer lesão grave de um atleta é, para mim, algo que me apoquenta.
Se pudesse, se tivesse esse poder, o que mudava no futebol Português ?
Algumas coisas… desde já os quadros competitivos que acho desadequados à realidade e, fundamentalmente, à evolução do nosso futebol. Não faz sentido descerem só 2 equipas na 1ª Liga e subirem só 2 na 2ª Liga ( este ano deram um ligeiro passo nesse sentido, felizmente). Outra, categoricamente, seria tornar o futebol transparente e devolver aos “homens” do futebol o “ pensar” o mesmo. Em termos de regulamento, limitava os empréstimos entre clubes de jogadores, por exemplo e os pressupostos financeiros dos clubes teriam uma “ malha” muito mais apertada.
Que soluções vê, num clube, para a formação ?
Para uma formação existir, existem 2 pressupostos importantes: infraestruturas e investimento nos quadros técnicos. Depois, com toda a clareza, saber o que pretendem da formação, em termos de “ fornecimento” de atletas para o plantel sénior ou se, porventura, uma mera plataforma de rotação de atletas no sentido de negócio. Este entendimento,é determinante para elaborar um projeto credível da formação e, em linhas gerais, existir uma coordenação conjunta com todos os setores do clube.
O que deixou de fazer, na sua vida, por causa da "opção" futebol ?
Algumas coisas, para não dizer muitas… por exemplo posso ter deixado de ser médico … mas não estou nada arrependido, porque enveredei por aquilo que gostava e sou feliz assim.
Quais as "qualidades" mais importantes, que "a cara metade" de um profissional de futebol, deve ter ?
É fundamental, o apoio da família, em todos os sentidos. A profissão treinador, no futebol, é exercida sobre grande pressão, desde o primeiro dia de trabalho. Como costumo dizer, somos os que dependemos de todos e estamos sozinhos em tudo o que corre mal. Logo, quem está ao nosso lado, tem de ter uma dose industrial de paciência. Para além do tempo que ocupamos no exercício da nossa profissão. O treino termina, mas o trabalho vai muito para além disso.
O que a sua família lhe "exigiu", por os "trocar" pelo futebol ?
Nada, porque sabia que era isto que me realiza profissionalmente.
Como vê os empresários, no futebol "moderno" ?
Acho que é uma atividade importante e que, se bem exercida, muito importante para a descoberta e valorização dos vários agentes no futebol. Contudo, como tudo, se for em exagero pode, também, prejudicar alguma coisa. Parece-me que decidem algumas coisas a mais...
O que teria sido, se não fosse treinador de futebol ?
Isso agora… sei lá...mas médico ou psicólogo seria algo que gostaria.
Revele o seu top 3 Mundial, de treinadores, e porquê ?
Alex Ferguson - Foi um treinador que conseguiu, durante muito tempo, manter o respeito de todos. Mesmo dos adversários. Com uma elegância comportamental e capacidade gestão impressionante. Para além disso, sem dúvida, foi o primeiro a apostar e a modelar Cristiano Ronaldo.
Pep Guardiola - Apesar de ter a felicidade de treinar só grandes equipas, aprecio, particularmente, o estilo de jogo que preconiza, com posse e identidade própria. Pode não ganhar, mas sabemos que é uma equipa dele.
Jorge Jesus- Poderia escolher outros ( Mourinho, Vitor Oliveira, Klop), mas tinham que ser 3 e escolhi Jorge Jesus. Acho que é um treinador que transmite às equipas uma forma de jogar com qualidade e consegue convencer a adquirirem os atletas que quer, e isto não é fácil. Mas, a minha escolha, recai nele porque conseguiu algo muito difícil para qualquer treinador português- vencer e convencer no Brasil. Demos tantas oportunidades a técnicos brasileiros e a jogadores, mas nunca fomos bem vistos na América do Sul. Ele conseguiu isso, não sendo nada fácil.
Para si, qual o melhor jogador atual ?
Cristiano Ronaldo. A eleger um, será o CR7, por tudo o que ganhou e fez ganhar.
Qual o melhor método de jogo, se é que existe, no futebol ?
O método, é algo que tem de existir e é o mais importante. A forma como se desenvolve o método ( que nada tem a ver com o sistema) capacita as valências de análise e tomadas de decisão. Preconizo o integrado, trabalhando a técnica, tática e a componente física em exercícios, que procurem dar aos jogadores os “condimentos” que nos levarão a uma ideia de jogo, com os princípios e sub-princípios estabelecidos. A parte analítica, tem a sua aparição de forma complementar. O método, contudo, podendo ser variável, encerra em todos o denominador comum- treinar como se deve jogar.
Sempre escolheu os jogadores, pelo seu modelo de jogo "ideal", ou consoante os jogadores que tem, escolhe o modelo ?
Claramente, consoante os jogadores. Não faz sentido de outra forma. Por isso, é preciso tempo para se chegar a um nível, que se possa dizer- com estes jogadores a equipa está a jogar o que pode. Escolher quem se quer, só alguns treinadores têm essa felicidade. Pode ser que um dia possa fazer o mesmo(risos).
Sempre foi "fiel " ao seu modelo de jogo, ou muitas vezes tem que se "esquecer" disso, e se adaptar ao adversário ? Ou isso depende muito de quem se treina, e os objetivos desse clube ?
Neste capítulo, gosto de manter a identidade da equipa. Mesmo quando as clivagens são abismais, gosto que as minhas equipas queiram, acreditem e consigam jogar como costumamos fazer. A parte estratégica, essa sim, pode mudar em algumas coisas, mas nunca no modelo de jogo
Qual a diferença, entre o futebol Português e o Argelino ?
Consideráveis. A própria cultura ajuda a isso. Aqui, existem mais condições, somos mais profissionais. Lá, existe uma paixão muito maior pelo futebol e o público está sempre presente(nós no Paradou, é que nunca tínhamos público…). O futebol argelino, tem uma velocidade e intensidade altas, mas taticamente, são algo limitados, com falta de formação.
Porque fez questão, quando foi para o Pedras Rubras, me ir buscar outra vez, depois de eu ter saído da maneira que saí ?
Aconteceu, somente, por uma razão. Para mim, eras importante no grupo, tendo sido injusta a tua saída e … mais importante, tendo visto a jogar o Oliveira, achava que ele tinha muito mais para dar. Acho que acertei em todos os aspetos e tu conseguiste demonstrar, a muita gente, que estavam enganados. Penso muito pela minha cabeça e não gosto de alinhar só porque é mais cómodo. Sou aberto, mas gosto no que acho importante de pensar e fazer o que sinto.
O que foi para si, ter me conhecido ?
Foste o meu primeiro capitão vencedor. Para além disso, confirmaste a grande teoria no futebol- os jogadores quando entendem o treinador, e quando este é positivamente coerente e teimoso, o sucesso está mais perto. A tua forma de encarar o treino e, principalmente, de pensar e analisar o que te rodeava, foi algo que ficará sempre na minha memória. Foste uma das peças fundamentais para o meu sucesso, ao seres leal, crítico e aberto. Como gosto que sejam comigo. E fizeste cortes importantes, assim como cruzamentos bons...bem até golos fizeste, mesmo que poucos...mas um lembro-me que foi muito importante.
(Manuel Oliveira): Muito obrigado Mister, por esta pequena "conversa". Obrigado também pelas suas palavras em relação à minha pessoa. Já nos encontramos, e falamos, várias vezes, mas nunca o tinha "ouvido" a falar assim de mim. É sempre bom ouvir falar assim de nós, mas de facto sempre me entreguei a tudo em que acredito. E de facto você passou essa mensagem, quando cá(Pedras Rubras) chegou.. Tive oportunidade de lhe dizer isso, como sabe, ainda você era treinador adjunto. Obrigado por me ajudar a ganhar o que ganhei, 2 subidas de divisão(3º Nacional e 2ª B) e só foi pena acabar nesse ano, por motivos de lesão, pois foi no ano que iria jogar com o Leixões-se calhar foi melhor assim, senão ia ter que marcar na própria(risos).
Abraço, tudo de bom, e espero que volte ao MEU Leixões.