Ou como um péssimo exemplo também pode ser admirável
Em Portugal dá-se demasiada importância às táticas: tenta explicar-se o futebol com números e algarismos, como se o jogo se decidisse mais na cabeça dos treinadores do que dos jogadores.
Não acredito nisso.
Na minha opinião, a maior parte dos jogos são ganhos pela inteligência emocional: na capacidade de cada jogador, e todos juntos, perceber, utilizar e transformar as emoções em futebol puro.
Ora nesse sentido, e era a este ponto que queria chegar desde o início, Guardiola faz mal ao futebol português.
O que Guardiola fez no sábado, no clássico da liga alemã em Dortmund, foi um péssimo exemplo: e ao mesmo tempo foi admirável.
Antes de mais, e para início de conversa, convém lembrar o mais evidente: quando o jogo não saía do nulo, o espanhol retirou um ponta de lança (o único que tinha em campo) meteu um médio e a partir daí a equipa fez três golos.
Mas há mais: Javi Martínez, por exemplo. Começou a jogar como médio de ataque, passou depois para médio defensivo, mais tarde foi central e acabou o jogo novamente no meio campo defensivo.
Lahm começou a trinco e acabou a lateral, Muller jogou na direita e no centro.
Trocou um avançado (Mandzukic) por um médio (Goetze), substituiu um central (Boateng) por outro médio (Thiago Alcântara) e abdicou de um lateral (Rafinha) para introduzir um central (Van Buyten).
No fundo foi ele que encheu o clássico. Mexeu no jogo como quis e quando quis, mudou jogadores de posição, alterou taticamente a equipa e venceu no terreno do maior rival por claros 3-0: ficou ali na fronteira de uma goleada histórica.
Foi um espetáculo, e ao mesmo tempo foi um perigo.
Guardiola não é só um treinador carismático, é sobretudo um homem carismático. Mexe num jogo de futebol como quem mexe as peças num jogo de xadrez: mas isso é o que todos vemos.
Por detrás de tudo isso, e digo isto sobretudo pelas informações que chegavam de Barcelona, há um craque na capacidade de entrar dentro do grupo e mexer também na inteligência emocional dos jogadores.
Por alguma razão, aliás, chegou a Munique a falar alemão.
Infelizmente para a classe não é uma inspiração: é uma exceção. Infelizmente sobretudo para aqueles treinadores que olham mais para Guardiola do que para Capello ou para Trapattoni.
Aqueles treinadores que julgam que ser simples é ser limitado e que um jogo se ganha por colocar um lateral a fazer de extremo, um central a fazer de trinco ou um médio a fazer de lateral (sim, Queiroz, esta era para ti e para a ideia de meter Paulo Sousa a fechar à esquerda no dérbi).
No fundo todos querem ser geniais, mas génios como Guardiola surgem uma vez numa vida: e nós já preenchemos a nossa quota.
«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui às sexta-feiras de quinze em quinze dias
Não acredito nisso.
Na minha opinião, a maior parte dos jogos são ganhos pela inteligência emocional: na capacidade de cada jogador, e todos juntos, perceber, utilizar e transformar as emoções em futebol puro.
Ora nesse sentido, e era a este ponto que queria chegar desde o início, Guardiola faz mal ao futebol português.
O que Guardiola fez no sábado, no clássico da liga alemã em Dortmund, foi um péssimo exemplo: e ao mesmo tempo foi admirável.
Antes de mais, e para início de conversa, convém lembrar o mais evidente: quando o jogo não saía do nulo, o espanhol retirou um ponta de lança (o único que tinha em campo) meteu um médio e a partir daí a equipa fez três golos.
Mas há mais: Javi Martínez, por exemplo. Começou a jogar como médio de ataque, passou depois para médio defensivo, mais tarde foi central e acabou o jogo novamente no meio campo defensivo.
Lahm começou a trinco e acabou a lateral, Muller jogou na direita e no centro.
Trocou um avançado (Mandzukic) por um médio (Goetze), substituiu um central (Boateng) por outro médio (Thiago Alcântara) e abdicou de um lateral (Rafinha) para introduzir um central (Van Buyten).
No fundo foi ele que encheu o clássico. Mexeu no jogo como quis e quando quis, mudou jogadores de posição, alterou taticamente a equipa e venceu no terreno do maior rival por claros 3-0: ficou ali na fronteira de uma goleada histórica.
Foi um espetáculo, e ao mesmo tempo foi um perigo.
Guardiola não é só um treinador carismático, é sobretudo um homem carismático. Mexe num jogo de futebol como quem mexe as peças num jogo de xadrez: mas isso é o que todos vemos.
Por detrás de tudo isso, e digo isto sobretudo pelas informações que chegavam de Barcelona, há um craque na capacidade de entrar dentro do grupo e mexer também na inteligência emocional dos jogadores.
Por alguma razão, aliás, chegou a Munique a falar alemão.
Infelizmente para a classe não é uma inspiração: é uma exceção. Infelizmente sobretudo para aqueles treinadores que olham mais para Guardiola do que para Capello ou para Trapattoni.
Aqueles treinadores que julgam que ser simples é ser limitado e que um jogo se ganha por colocar um lateral a fazer de extremo, um central a fazer de trinco ou um médio a fazer de lateral (sim, Queiroz, esta era para ti e para a ideia de meter Paulo Sousa a fechar à esquerda no dérbi).
No fundo todos querem ser geniais, mas génios como Guardiola surgem uma vez numa vida: e nós já preenchemos a nossa quota.
«Box-to-box» é um espaço de opinião de Sérgio Pereira, jornalista do Maisfutebol, que escreve aqui às sexta-feiras de quinze em quinze dias
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